terça-feira, 3 de agosto de 2010

Começo me escutando





O tema da reforma é propriamente muito interessante, mas você tem que entender que as reformas sempre começam primeiramente pelos atos das reflexões, é o primeiro passo de uma caminhada de mil passos.
Em primeiro aspecto é preciso entender o “zeitgeist”, ou seja, o espírito, o momento cultural, social, econômico da época, enfim o contexto geral. E nada melhor para entender que nos chegarmos ao pensamento de Karl Marx (Filósofo Alemão que juntamente com Engels foram idealizadores do chamado comunismo ou socialismo real). Ele diz que a consciência (mente) é formada pela integralização das relações de produção (Marx em seu pensamento enfatiza muito o papel do meio na formação da consciência). Isso quer nos dizer que toda mentalidade é a mentalidade de um tempo, de uma época. Desta forma podemos apontar que as relações de produção (Homem e o meio), e por sua vez a mente atual, está totalmente implicada com a marca do nosso tempo, isto é, a rapidez, a velocidade de tudo e todos, são as informações, alimentos, ligações, produções, em resumo, hoje tudo é FAST, é a síndrome do pensamento acelerado, síndromes da falta de profundidade. Estamos caminhando patologicamente da depressão para as síndromes de ansiedade (fobias, ansiedade, pânico, etc.).
Segundo aspecto é entender que existe um individuo que existe, que se apresenta como um ator no palco do mundo, mundo este configurado pela dimensão FAST, tudo artificial e rápido. Embora esse indivíduo esteja num mundo que por mais que se transforme, tome outras roupagens, novos processos, com cara de moderno, ou pós-moderno. Se ele pára para se escutar, analisa a si mesmo mais profundamente, acaba descobrindo a existência de determinadas demandas, que sobre a proteção do meio, seja do moderno, ou pós-moderno é impulsionado pela pulsão e pela sua própria proibição, a saber, a proibição do seu próprio desejo.
O que quero dizer é que mais que o mundo mude o sujeito sempre existira com os velhos dilemas originados do seu próprio desejo, sem saber lidar com tal elemento que muitas vezes aparece-lhe como um monstro fantástico capaz de devorá-lo.
Assim trazendo tudo para o contexto relacional de sermos igrejas, o corpo da comunhão de Cristo, chamados em sua essência maior que é o amor; a grande “sacada” é: poder escutar a nós mesmos e nos conhecer profundamente. Chegamos assim a ter a mesma “sacada” que Sócrates (Filósofo grego) teve ao ler os escritos nos portais dos oráculos de Delfos: Conhece-te a ti mesmo!
Viver uma reforma do amor parece-me passar por essa via, de conseguir escutar o próprio desejo, para assim ser capaz de escutar o desejo do outro (amar a si é ser livre para amar o outro). Tão somente nessa ordem, partindo para o domínio do monstro da pulsão, não poderemos chegar à jornada de Samaria (JO. 4), quando Jesus olhando para a samaritana disse: “que 5 maridos já tivestes”, “e o que tens ainda agora não é teu”, e a partir de uma apurada e singela escuta, Ele colocou aquela mulher na rota exata da sua perdida existência. E, sabiamente, ainda o Mestre do amor diz: “cisternas, poços há por toda parte, mas somente em mim, dentro em mim, há a verdadeira água, da qual quem beber nunca mais voltará a ter sede”, somente creia! Aquela mulher, ao conversar com o Mestre, internaliza-se, compreende seus desejos recupera o sentido de existir, a poesia da vida, nEle que é a fonte de águas vivas!

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