quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Novos desafios do evangelho

À medida que a sociedade se transforma e proporciona novos arranjos para a vida humana, por sua vez o evangelho que em essência é imutável precisa se preparar e elaborar novas estratégias para enfrentar os desafios que são colocados. É preciso entender como deverá ser o processo para salgar, e de que modo deverá ser a iluminação, considerando que o evangelho é sal e luz.

Os desafios a cada dia são mais extensivos e requer uma capacidade de analise tremenda, pois o conjunto dos desafios a iniciar pelos esquemas da globalização, a velocidade na troca de informações, que por sua vez configura novas formas de relações interpessoais, com a marca da velocidade nos encontros e desencontros, a superficialidade dos mesmos, que resultam em novas ‘patos’ (doenças), a saber, que passamos da geração depressão, para a geração da fobia, um novo momento marcado pelo medo.

Os desafios sociais, que determinantemente são conseqüências da mentalidade e dos padrões de comportamentos individuais, a cada dia são mais marcados pela frieza e distanciamento do amor, originando a barbárie, e assim, a tentativa de legitimação de políticas a favor da irracionalidade, em detrimento da ausência de responsabilidade pessoal.

Assim são os novos desafios da geração atual, enorme variedade de crimes contra a vida, por inúmeros e banais motivos, a pedofilia, o aborto, a eutanásia, a legitimação jurídica das relações homofóbicas (casamentos gays),novas substancias para narcodependência (caso do epidemia de crack), crescente do tráfico (humanos, drogas, armas, animais, órgãos humanos e outros).

E, estas realidades parecem fazer parte de um outro mundo, distante do mundo evangélico, haja vista que este mundo e revestido de uma moralidade que impede estes tipos de práticas. Deste modo, os desafios sociais, ficam de fato no ‘mundo’, e já não fazem mais parte da nossa realidade. É como se esses problemas já não nos afetasse mais, agora somos de Deus, novas criaturas, todas essas coisas ficaram para trás.

Mas a nós é imputado não apenas o dever do crescimento espiritual e da intimidade com Deus, esquecidos numa torre de marfim, ou nos montes de oração, mas sim, salgar esta terra, ser um farol que ilumina a geração. Não basta deixar os problemas sociais a quem deles é dever, pois é dever da igreja a transformação pessoal, e por sua vez social. Quero dizer, é problema nosso (evangélicos) todos os desafios citados.

A mensagem do Cristo é clara a esse respeito, pois o evangelho é poder transformador e restaurador, deste modo é possível enumerar alguns passos necessários para o despertar da igreja para os novos desafios.

1) Reflexão e entendimento que os desafios sociais é também dever da igreja, tendo em vista a própria dimensão da igreja enquanto instituição social, que tem como motivo de existência o evangelho, que é luz para o mundo. Ou seja, o real motivo de existência da igreja é exatamente ser referencial moral, um farol existencial. Em vias práticas é tornar próprio os desafios, militar pela transformação dos desafios segundo o padrão moral do evangelho;

2) Se o futuro da nação e das instituições é a juventude, trabalhar de modo reflexivo e prático os temas que perjuram os desafios sociais, treinando a capacidade de refletir e encontrar situações práticas, de militância a favor das vertentes evangélicas. A geração juvenil entender quais são suas bandeiras a favor da vida e da saúde, a partir dos conceitos cristãos e ser testemunha viva e força atuante em prol de suas bandeiras;

3) Entender o papel da política, enquanto dimensão democrática, isto é, papel representativo que damos a determinadas pessoas (políticos) em nos representar, e assim fazer políticas sócias de acordo com suas ideologias. Quer dizer, é preciso entender a função social da política e ter consciência política.

4) Treinar uma geração juvenil afim de política, para que ser atuante na dimensão política, a fim de atender e produzir políticas públicas a favor da vida de acordo com os padrões éticos e moral cristão. Se a política e economia são duas forças motrizes da sociedade, é preciso, não obstante, dever, ter indivíduos estratégicos posicionados para legitimar não políticas próprias, ou políticas de clã, mas legitimar políticas e militar contra políticas que intentam a desfavor da moralidade e ética bíblica, entendendo que os mandamentos bíblicos são vida para aqueles que o vivem, destarte, ter uma aplicação generalizada, isto é, políticas publicas de acordo com os mesmos, é a expressão da vida e saúde social.

Somente juntos seremos e teremos a força necessária para colocar o Brasil no rumo certo, sendo sal e luz que tornam o tempero e claridade necessária para o bem-estar, de modo que as pessoas possam estar bem no próprio pais, pensando e caminhando sempre a favor da vida.

nEle podemos todas as coisas!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Os ladrões da Cruz


Falar de cruz, a primeira imagem que surge é a de Jesus Cristo pendurado no madeiro, com os cravos nas mãos e nos pés derramando sangue. A segunda imagem, se conseguirmos ampliar o foco, é ver que ao lado de Jesus, no monte da caveira, no Gólgota, estão outros dois crucificados, homens maldosos, ladrões e réus confessos, cumprindo a sentença que por justiça lhes coube por determinados crimes.

No entanto, existe uma situação que é peculiar àquele momento, o dialogo entre os crucificados, de um lado a expressão da humildade, a qual faz um dos crucificados reconhecer o senhorio do Deus Crucificado, e isso lhe rende nos últimos minutos a salvação.

Do outro lado está uma figura que até os dias de hoje a ação daquele crucificado reverbera em nossos ouvidos, e se torna clara aos nossos olhos, que em tamanha estupidez e altivez, o condenado, que nada lhe restara mais, se não, morrer, grosseiramente desafia o crucificado do meio, se ÉS o Cristo então salva a Ti mesmo.

Esse individuo é a expressão de algumas caricaturas cristãs que caminham em nosso meio. São pessoas que submergiram em todo o processo cultural do cristianismo, elas freqüentam a igreja, falam o idioma ‘crentês’, anda como um crente, fala como um crente, enfim, tem todo tipo de comportamento de um crente, isto é, toda a mecânica, todo o externo é crente, mas o interno, as atitudes, a mentalidade caminha em uma outra via distante.

O símbolo máximo da submissão e devoção que pertinentemente nos faz caminhar pela via da autenticidade da vida cristã é a Cruz, na qual é operante um processo de mortificação, onde eu já não existo mais, e sim Cristo vive em mim. E essas pessoas até vão a Cruz, aceitam a coroa de espinhos, os pregos cravejam as mãos, cravejam os pés, isto é, a mentalidade (coroa na cabeça), seus feitos (mãos) e sua caminhada (pés) são condizentes com o evangelho, mas a diferença é que a lança ainda não perfurou o lado esquerdo, para vazar, para vir para fora tudo o que está dentro dele.

É uma classe de cristãos que a lança não terá vez, não existirá estampado a permissão para furar o lado, pois é do saber que tomar a cruz é um ato deliberativo, passa pela vontade, pelo querer, é preciso vontade para ir a cruz, aceitar os pregos, a coroa, e a lança, e essa classe de pessoas aceitam todos os passos, exceto a lança que traria mudanças interiores profundas.

E impedirão a lança por um motivo escandaloso, são roubadores, ladrões da glória. Feridas narcísicas não tratadas, frustrações pessoais, infância marcada pela inferioridade, auto-imagem comprometida, situações interiores que geram nesses indivíduos uma atitude de super compensação, isto é, vão lutar a todo custo para resolver um passado que nunca passou. Utilizarão do púlpito, da bíblia e do poder da palavra para autopromoção, na tentativa de dizer ao passado que agora são fortes, são vencedores.

São pessoas eternamente lutando no presente contra seu passado, contra a criança emocional que não cresceu, não superou, somente mudou os artefatos que outrora utilizava por aparatos de adulto, simplesmente trocaram os brinquedos. Sofrem da síndrome de Clark Kent, a síndrome de Super Homem, Super Crente, Super Pai, do SSSSuper. Tentam dizer a todo custo ao mundo quão grande são.

Quão pesaroso para tais seria perceber que a medida que tentam mostrar sua grandeza revelam sua pequenez, sua insensatez. Como o ladrão da Cruz que num ato de inabilidade existencial desafia o Autor da Vida, numa tentativa de dizer mais uma vez que ‘eu sou mais eu’, e que no último momento para sair da roda viva da repetição neurótica de sua vida, a qual por toda a sua vida se preocupou em dizer quem ele era, tamanha preocupação em dizer, que não conseguiu escutar quão pequeno era, e assim poder sustentar que ele sempre seria pó, essa seria a chave do seu cárcere emocional, que desataria as prisões e o colocaria em liberdade.

Não obstante, para os ladrões da Glória, super homens por fora, meninos feridos por dentro, toda a Glória seja ao próprio self, verdadeiras cisternas rachadas que não retém água, homens que estão ao lado da Fonte Viva, mas ininterruptamente sentem sede, sede de vida, de liberdade, de serem simplesmente eles mesmos.

Tornar a Ele toda a Glória, e não a si próprio a Glória, implica em assumir a condição de ferido, doente na auto-estima, e por mais dura que seja a serviz, ela precisará ser totalmente curvada, e com a disposição interna, dizendo SIM para a lança, a fim de que a mesma possa perfurar o lado, e assim colocar para fora toda água salgada e amarga, e esgotar todo o sangue, símbolo da própria vida, consolidando o verdadeiro morrer, e ser não um ladrão da Glória, mas um participante da Glória Divina e Eterna.

Pois de fato, somente a Ele toda a Glória!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Freud, Nietzche, Marx e Cristo: Seguimentos e paradoxos





Em “Assim falou Zarastruta”, Nietzche afirma categoricamente por meio do seu personagem que sai vagueando pelos mercados, praças anunciando para o povo que “Deus está morto”. Na busca pelo desmascaramento dos valores, e anunciando a genealogia dos valores, Nietzche tem por certo que a vida para ser bem vivida, é aquela que se contempla totalmente a idéia de finitude, isto é, o homem é finito, derivado do húmus, e para este há de retornar. A vida tem seu inicio e seu fim, e basta, nada mais que isso. A idéia de eternidade, de vida pós-morte é totalmente inconcebível ao homem elaborado por Nietzche, ao contrario é o sintoma de fraqueza, portanto em sua busca de construção de um outro mundo, afirma “Deus está morto” e não há quem possa se esconder no mesmo.

“A religião é o ópio do povo”, assim afirma Marx, que a religião tem em sua essência a capacidade de turvar a consciência dos homens, impedindo que possam desenvolver o curso de vida autenticamente, e sim, de um modo completamente alienado. Em sua visão a religião tem propriedades alucinógenas projetando o povo para crenças que são falácias revestidas de sagrado.

Para Freud, a “religião é a neurose obsessiva da humanidade” e “religião é o futuro de uma ilusão”. Primeiramente, Freud afirma que a religião é uma neurose obsessiva em decorrência de vários de projeção que fazemos das figuras paternas e maternas, criando um Deus, que tivesse vida e por sua vez nos impusesse as restrições. A repetição da historia do desamparo que sentimos do pai, e assim projetamos em algo que apazigúe esse desamparo, isto é, a figura de Deus. Não obstante, a religião ser uma ilusão, porque na visão de Freud, a partir de um tom de cientificismo, a sua crença que a única coisa que melhor poderia ser ao homem, será a ciência, a qual poderá trazer progresso a vida humana.

Analisando as celebres expressões que caracterizam os pensamentos dos autores acima, algo aponta para um materialismo critico, que encerra toda e qualquer possibilidade de contemplar o mundo em sua dimensão bipolar de mundo real – mundo espiritual, e no âmbito do humano, das dimensões da alma – e do espírito. Seria como retirar os olhos que tanto enxergam dimensões da vida, e viver no mero tatear sobre a escuridão. É de se pontuar que tais pensamentos advem da própria morbidade do espírito, que apagado na própria escuridão jamais concebeu a ideia do espiritual. Não como fuga, mas como a capacidade de transcendência, a capacidade de encontro e re-encontro com o Absoluto, pois como afirma Cristo, que Ele é espírito, e importa que os verdadeiros adorem em espírito e em verdade.

A idéia do espiritual é a concepção de encontro da vida, do retorno ao elo perdido, atendendo ao desejo inconsciente de Deus, como afirma Viktor Frankl, um desejo latente que anseia ardentemente ao retorno e comunhão com o Criador. Nesse quesito, rompe-se a concepção da patologia para inserir o humano na concepção de saúde, e saúde espiritual, que faz florescer a capacidade de contemplação profunda, reflexão critica da existência, e revitalização da consciência, e da transcendência.

“Eu e o Pai somos um”. É se chegando ao Filho que temos acesso ao Pai, mas somente por meio de um espírito vivificado, que nos revoga a possibilidade de viver o verdadeiro amor, que traz a tona uma relação autentica de filiação, isto é, a verdadeira e saudável relação de Pai-filho, na qual o amor é a coluna que sustenta todas as coisas, e que como balsamo traz a capacidade de uma ação curativa e preventiva.

Somente no Amor!

Começo me escutando





O tema da reforma é propriamente muito interessante, mas você tem que entender que as reformas sempre começam primeiramente pelos atos das reflexões, é o primeiro passo de uma caminhada de mil passos.
Em primeiro aspecto é preciso entender o “zeitgeist”, ou seja, o espírito, o momento cultural, social, econômico da época, enfim o contexto geral. E nada melhor para entender que nos chegarmos ao pensamento de Karl Marx (Filósofo Alemão que juntamente com Engels foram idealizadores do chamado comunismo ou socialismo real). Ele diz que a consciência (mente) é formada pela integralização das relações de produção (Marx em seu pensamento enfatiza muito o papel do meio na formação da consciência). Isso quer nos dizer que toda mentalidade é a mentalidade de um tempo, de uma época. Desta forma podemos apontar que as relações de produção (Homem e o meio), e por sua vez a mente atual, está totalmente implicada com a marca do nosso tempo, isto é, a rapidez, a velocidade de tudo e todos, são as informações, alimentos, ligações, produções, em resumo, hoje tudo é FAST, é a síndrome do pensamento acelerado, síndromes da falta de profundidade. Estamos caminhando patologicamente da depressão para as síndromes de ansiedade (fobias, ansiedade, pânico, etc.).
Segundo aspecto é entender que existe um individuo que existe, que se apresenta como um ator no palco do mundo, mundo este configurado pela dimensão FAST, tudo artificial e rápido. Embora esse indivíduo esteja num mundo que por mais que se transforme, tome outras roupagens, novos processos, com cara de moderno, ou pós-moderno. Se ele pára para se escutar, analisa a si mesmo mais profundamente, acaba descobrindo a existência de determinadas demandas, que sobre a proteção do meio, seja do moderno, ou pós-moderno é impulsionado pela pulsão e pela sua própria proibição, a saber, a proibição do seu próprio desejo.
O que quero dizer é que mais que o mundo mude o sujeito sempre existira com os velhos dilemas originados do seu próprio desejo, sem saber lidar com tal elemento que muitas vezes aparece-lhe como um monstro fantástico capaz de devorá-lo.
Assim trazendo tudo para o contexto relacional de sermos igrejas, o corpo da comunhão de Cristo, chamados em sua essência maior que é o amor; a grande “sacada” é: poder escutar a nós mesmos e nos conhecer profundamente. Chegamos assim a ter a mesma “sacada” que Sócrates (Filósofo grego) teve ao ler os escritos nos portais dos oráculos de Delfos: Conhece-te a ti mesmo!
Viver uma reforma do amor parece-me passar por essa via, de conseguir escutar o próprio desejo, para assim ser capaz de escutar o desejo do outro (amar a si é ser livre para amar o outro). Tão somente nessa ordem, partindo para o domínio do monstro da pulsão, não poderemos chegar à jornada de Samaria (JO. 4), quando Jesus olhando para a samaritana disse: “que 5 maridos já tivestes”, “e o que tens ainda agora não é teu”, e a partir de uma apurada e singela escuta, Ele colocou aquela mulher na rota exata da sua perdida existência. E, sabiamente, ainda o Mestre do amor diz: “cisternas, poços há por toda parte, mas somente em mim, dentro em mim, há a verdadeira água, da qual quem beber nunca mais voltará a ter sede”, somente creia! Aquela mulher, ao conversar com o Mestre, internaliza-se, compreende seus desejos recupera o sentido de existir, a poesia da vida, nEle que é a fonte de águas vivas!