sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O frio




Ao sentar no sofá de casa hoje, e deter-me aos noticiários do dia, chamou-me a atenção, em especial as noticias que remetiam ao frio europeu deste ano, como há anos não era sentido na Europa. A quantidade de gás necessária para aquecimento ultrapassou os limites normais; pessoas morrendo devido as actuais condicoes do clima; os negócios no EUA com prejuízos bilionários devido as baixissimas temperaturas. A reportagem ressaltava que as temperaturas chegavam a -20 graus na Europa, um pouco mais baixa em outros lugares. Fiquei me recordando dos tempos em que vivi na Sibéria Russa, e la enfrentei temperaturas de -40 graus, muitas vezes fazendo de dias com temperatura na casa de -40 graus, dias extremamente alegres, marcantes, com muita diversão. Mas assim que a reportagem seguia, minha irmã, que estava sentada ao meu lado também vendo a reportagem, logo exclamou que era frio demais, algo insuportável. Dai comecei a pensar sobre o papel das situacoes extremas em nossas vidas. Parece-me que a conotação de 'extremo' esta intrinsecamente relacionado aos limites vividos, ao próprio limite, segundo a experiência que cada um permitiu formar. Em outros termos, nossos limites são definidos a partir das nossas experiências, isto e, se pode experimentar e sinonimo de que pode suportar. Resumindo, seu limite foi definido ate onde você foi, ou melhor, ate onde se permitiu ir.
Lembro que ate o momento de começar a sair do Brasil, para outros países, pensar na condição de vivenciar um frio de 0 graus, era me submeter a uma condição muito difícil, iria sentir muito frio, para um jovem do interior de Goiás, acostumado a temperaturas na casa de 15 graus, 0 graus, já era muito frio. Fui morar na Europa, certa feita, tive que dormir na rua em Madrid, a temperatura era de -2 graus nesta noite. Passei em claro toda a noite, os pés congelando, muito frio nas mãos, tendo que me movimentar toda a noite, para tentar me esquentar. Uma das piores noites do ponto de vista da confortabilidade, mas uma das noites inesqueciveis para a alma. Limites foram rompidos, devido a situacao extrema ao meu mundo comum de temperaturas a 15 graus. Evolui, se e que posso chamar de evoluir, meus limites a temperaturas mais baixas. Mesmo assim, cogitar -40 graus, era muito, era demais para mim. Nao obstante, fiz minha escolha, iria viver na Siberia Russa. E por la, o frio nao perdoa, e ascendente sempre no inverno, e chegaram os dias do -40 graus. O que fazer? Como diziam os russos siberianos, não existe frio, existe poucas roupas, ou roupas não apropriadas! Agasalhar de modo a suportar, e suportei. Na mente, depois de mais um dia vivendo -40 graus, sempre a sensação de limites evoluídos, transcendidos. Agora, eu era um sujeito que tinha em seu repertório vivencial a condição de viver um dia-a-dia a -40 graus. Contudo, ficava claro agora compreender porque os russos estavam com roupas de verão, enquanto europeus agasalhados em pleno inverno; porque alguns conseguem trabalhar manualmente o dia todo, enquanto outros não suportam meia hora; porque determinado quantum de barulho e tão irritante para alguns, e tao suportável para outros; porque a mesma quantidade de álcool ingerido por um individuo, o deixa tão bêbado, enquanto para outros não e capaz de nem começar o estado eufórico. A explicação e referente aos limites, que se constituem de modo psico-adaptativo, isto e, sua mente, seu corpo se adapta a determinadas condicoes, obrigando a uma interpretação de que e possível sobreviver. Uma vez sobrevivido, e possível, limite definido. E assim a vida, a minha e a sua vida, vai se fazendo, no decurso das experiências as quais nos permitimos vive-las. Coisa e fato, o limite de cada um, reside na coragem ou covardia de se permitir ir um pouco mais alem!

Um comentário:

  1. depois eu falo que o cara é um "analista do comportamento" ele não acredita. haja visto nesse texto com vocabulário da AC, hehehehee

    abraços irmão

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